UmPontoDeSituação . 2020
Galeria Cozinha [exposição colectiva] | FBAUP, Porto
Sem título [umbigos]
Estanho
16,5 × 5 cm | altura variável
Sem título [mãos]
Estanho
12 × 1 cm | altura variável
No meu universo goethiano detenho um ser solitário envolto pela paixão, intimamente preenchido com tudo o que vai cativando dentro de si. Um Eu com uma individualidade marcada que, no seu isolamento, se espelha nas suas acções, à semelhança de Narciso. No entanto, sem ter como fundamento a primazia do Eu em absoluto, é um ser apaixonado que não consegue comunicar e que, como protecção, cria um véu de vazio que o envolve. Este
vazio-refúgio comunga em simultâneo com uma presença corporal (exterior) e metafísica (interior). É uma presença silenciosa, sem manifestações estrepitosas e sem brilho. Ainda, segundo a minha interpretação, este vazio que circunscreve o Eu, quase como uma presença constante, é assim um espaço possível de se materializar entre dois pólos: o positivo e o negativo. Entendo-o como sendo primitivo, puro e incorpóreo, mas pronto a ser aprisionado e a metamorfosear-se em objectos. Perde a sua propriedade estéril ao habitar o outro lado: um não-mundo de espaços negativos.
isabel dores, 2020
Photo credits: Francisca Dores