Para a Isabel Dores
Segundo afirmas, a tua exposição foca-se em questões de individualismo e falta de comunicação e na tentativa
de materializar o espaço que medeia entre as pessoas. Neste sentido eleges um ser dual e invisível explorando, para
o exprimires, o jogo entre o positivo e o negativo.
Na minha linguagem, a tangência; esse espaço película que une os corpos, apenas nulo, mas podendo conter uma imensidão de significantes, assume aqui uma presença decisiva e uma condição definitiva. Mas a sua expressão precisa, em assumir formalmente essa invisibilidade, convoca em absoluto a ausência e ela é o vetor primordial na definição de um percurso conceptual que evidencia vivências mais ou menos magoadas.
Por muito que a obra de um artista persiga determinados conceitos, aborde temas diversificados, ou se exprima através
de formas aparentemente não familiares, uma leitura atenta e profunda à forma como interpreta as ideias que sistematicamente patenteia, identifica sempre um carácter e uma linha de sentido autobiográfico.
A expressão plástica que o artista imprime ao seu trabalho, a forma como conjuga ou manipula os elementos materiais
que elege para construir o seu discurso, pode parecer atraiçoar essa condição mas, os vectores presentes e repetidos
no conjunto da obra, vêm afirmar essa qualidade individual e, no teu caso, ela afirma-se de uma maneira explícita, permanente e bastante eloquente.
A eleição da escala real para os elementos que moldas no próprio e em outros corpos, assume um caráter íntimo e reforça
a verdade com que exploras e compões plasticamente essa temática.
A memória que tinha de um trabalho com uma sensibilidade e expressão muito própria não foi atraiçoada, passados estes anos, apesar de se mostrar agora aos meus olhos, com uma capa mais serena e uma afirmação mais consistente na exaltação da tangência, presentemente, com a representação do sujeito ausência mas com a mesma sensualidade latente.
A repetição dos elementos orgânicos, negativo/positivo ou representativo do corpo, que tratas através da frieza sistemática
do módulo, revelam uma obsessiva atitude perante prováveis gestos ou memórias, afirmam uma ausência persistente
e conferem a sistematização precisa à afirmação da permanência.
A linguagem plástica revela-se como um paradoxo já que parece mostrar, para além de uma íntima e dolorosa sensualidade, um grande carácter impessoal na evocação de uma realidade maquinal do mundo atual que é dado pela sugestiva imagem da fabricação em série e do seu contentor.
Mesmo os materiais escolhidos, parecem por vezes querer acentuar uma tentativa de distância, mas a referência evidente
ao ex-voto faz regressar a questão a um determinado culto e à evocação da prece.
As tuas frases procuram, num fugaz olhar de uma relação gráfica, a capacidade de descobrir uma leitura descomprometida, mas a poesia e força dos significados e a forma como se assumem, comprometem-nas novamente na relação aos afectos.
Esta dualidade de conceitos, permanente em todo o trabalho, revela afinal uma atitude coerente na assunção de uma intimidade desencontrada e na sua catarse.
A forma de manipular os elementos que utilizas para dar corpo ao teu imaginário e a constância com que o assumes, é feito através da criação de uma linguagem plástica atual e autêntica, em que a presença dos sentidos são constantemente depurados numa perene e significante dialética.
Carlos Marques
Julho 2017
Para a Isabel Dores
Segundo afirmas, a tua exposição foca-se em questões de individualismo e falta de comunicação e na tentativa
de materializar o espaço que medeia entre as pessoas. Neste sentido eleges um ser dual e invisível explorando, para
o exprimires, o jogo entre o positivo e o negativo.
Na minha linguagem, a tangência; esse espaço película que une os corpos, apenas nulo, mas podendo conter uma imensidão de significantes, assume aqui uma presença decisiva e uma condição definitiva. Mas a sua expressão precisa, em assumir formalmente essa invisibilidade, convoca em absoluto a ausência e ela é o vetor primordial na definição de um percurso conceptual que evidencia vivências mais ou menos magoadas.
Por muito que a obra de um artista persiga determinados conceitos, aborde temas diversificados, ou se exprima através
de formas aparentemente não familiares, uma leitura atenta e profunda à forma como interpreta as ideias que sistematicamente patenteia, identifica sempre um carácter e uma linha de sentido autobiográfico.
A expressão plástica que o artista imprime ao seu trabalho, a forma como conjuga ou manipula os elementos materiais
que elege para construir o seu discurso, pode parecer atraiçoar essa condição mas, os vectores presentes e repetidos
no conjunto da obra, vêm afirmar essa qualidade individual e, no teu caso, ela afirma-se de uma maneira explícita, permanente e bastante eloquente.
A eleição da escala real para os elementos que moldas no próprio e em outros corpos, assume um caráter íntimo e reforça
a verdade com que exploras e compões plasticamente essa temática.
A memória que tinha de um trabalho com uma sensibilidade e expressão muito própria não foi atraiçoada, passados estes anos, apesar de se mostrar agora aos meus olhos, com uma capa mais serena e uma afirmação mais consistente na exaltação da tangência, presentemente, com a representação do sujeito ausência mas com a mesma sensualidade latente.
A repetição dos elementos orgânicos, negativo/positivo ou representativo do corpo, que tratas através da frieza sistemática
do módulo, revelam uma obsessiva atitude perante prováveis gestos ou memórias, afirmam uma ausência persistente
e conferem a sistematização precisa à afirmação da permanência.
A linguagem plástica revela-se como um paradoxo já que parece mostrar, para além de uma íntima e dolorosa sensualidade, um grande carácter impessoal na evocação de uma realidade maquinal do mundo atual que é dado pela sugestiva imagem da fabricação em série e do seu contentor.
Mesmo os materiais escolhidos, parecem por vezes querer acentuar uma tentativa de distância, mas a referência evidente
ao ex-voto faz regressar a questão a um determinado culto e à evocação da prece.
As tuas frases procuram, num fugaz olhar de uma relação gráfica, a capacidade de descobrir uma leitura descomprometida, mas a poesia e força dos significados e a forma como se assumem, comprometem-nas novamente na relação aos afectos.
Esta dualidade de conceitos, permanente em todo o trabalho, revela afinal uma atitude coerente na assunção de uma intimidade desencontrada e na sua catarse.
A forma de manipular os elementos que utilizas para dar corpo ao teu imaginário e a constância com que o assumes, é feito através da criação de uma linguagem plástica atual e autêntica, em que a presença dos sentidos são constantemente depurados numa perene e significante dialética.
Carlos Marques
Julho 2017
Para a Isabel Dores
Segundo afirmas, a tua exposição foca-se em questões de individualismo e falta de comunicação e na tentativa
de materializar o espaço que medeia entre as pessoas. Neste sentido eleges um ser dual e invisível explorando, para
o exprimires, o jogo entre o positivo e o negativo.
Na minha linguagem, a tangência; esse espaço película que une os corpos, apenas nulo, mas podendo conter uma imensidão de significantes, assume aqui uma presença decisiva e uma condição definitiva. Mas a sua expressão precisa, em assumir formalmente essa invisibilidade, convoca em absoluto a ausência e ela é o vetor primordial na definição de um percurso conceptual que evidencia vivências mais ou menos magoadas.
Por muito que a obra de um artista persiga determinados conceitos, aborde temas diversificados, ou se exprima através
de formas aparentemente não familiares, uma leitura atenta e profunda à forma como interpreta as ideias que sistematicamente patenteia, identifica sempre um carácter e uma linha de sentido autobiográfico.
A expressão plástica que o artista imprime ao seu trabalho, a forma como conjuga ou manipula os elementos materiais
que elege para construir o seu discurso, pode parecer atraiçoar essa condição mas, os vectores presentes e repetidos
no conjunto da obra, vêm afirmar essa qualidade individual e, no teu caso, ela afirma-se de uma maneira explícita, permanente e bastante eloquente.
A eleição da escala real para os elementos que moldas no próprio e em outros corpos, assume um caráter íntimo e reforça
a verdade com que exploras e compões plasticamente essa temática.
A memória que tinha de um trabalho com uma sensibilidade e expressão muito própria não foi atraiçoada, passados estes anos, apesar de se mostrar agora aos meus olhos, com uma capa mais serena e uma afirmação mais consistente na exaltação da tangência, presentemente, com a representação do sujeito ausência mas com a mesma sensualidade latente.
A repetição dos elementos orgânicos, negativo/positivo ou representativo do corpo, que tratas através da frieza sistemática
do módulo, revelam uma obsessiva atitude perante prováveis gestos ou memórias, afirmam uma ausência persistente
e conferem a sistematização precisa à afirmação da permanência.
A linguagem plástica revela-se como um paradoxo já que parece mostrar, para além de uma íntima e dolorosa sensualidade, um grande carácter impessoal na evocação de uma realidade maquinal do mundo atual que é dado pela sugestiva imagem da fabricação em série e do seu contentor.
Mesmo os materiais escolhidos, parecem por vezes querer acentuar uma tentativa de distância, mas a referência evidente
ao ex-voto faz regressar a questão a um determinado culto e à evocação da prece.
As tuas frases procuram, num fugaz olhar de uma relação gráfica, a capacidade de descobrir uma leitura descomprometida, mas a poesia e força dos significados e a forma como se assumem, comprometem-nas novamente na relação aos afectos.
Esta dualidade de conceitos, permanente em todo o trabalho, revela afinal uma atitude coerente na assunção de uma intimidade desencontrada e na sua catarse.
A forma de manipular os elementos que utilizas para dar corpo ao teu imaginário e a constância com que o assumes, é feito através da criação de uma linguagem plástica atual e autêntica, em que a presença dos sentidos são constantemente depurados numa perene e significante dialética.
Carlos Marques
Julho 2017
não podes mudar o meu passado | you can't change my past . 2017

Caixa de madeira, cera e folha de ouro / Wooden box, wax & gold foil
59,5 x 68 x 44 cm

Detalhe / Detail

XIX Bienal Internacional de Arte de Cerveira, Vila Nova de Cerveira
Assim me guardo numa caixa revestida a folha de ouro. A caixa de madeira que outrora acondicionou as minhas ferramentas do ofício do talhe da pedra, dá agora lugar a cinco múltiplos executados na frágil cera, aproximando-se
do ex-voto.
É um auto-retrato fechado na sua quietude de memórias impenetráveis.
Mais uma vez, as palavras são aqui utilizadas como um eco que provoca o espectador.
So I keep myself in a box covered with gold foil. The wooden box that once wrapped my tools for the stone carving, now gives place to five multiples executed in the fragile wax, approaching the ex-voto.
It is a self-portrait enclosed in its stillness of impenetrable memories.
Again, the words are used here as an echo that provokes the viewer.
isabel dores, 2017
Photo credits: Francisca Dores, Isabel Dores